Obra de Kiki Smith, Sem título,1993, NY
Quando me propus criar e dedicar parte do meu tempo livre e de estudo na realização deste blog, me propus a dois objetivos básicos:
Um conhecido;
Um desconhecido.
O conhecido, não tinha dúvida, era partilhar com psicólogos e com pessoas que tivessem algum interesse em se embrenhar, no inconsciente, neste matagal tropical constituído de todo tipo fenomenal e específico de habitantes, espécies exóticas, fauna e flora singulares, símbolos e todo tipo de mistério e do desconhecido imaginável e inimaginável num mundo velho novo, misterioso e desconhecido.
Não tive, não tenho e tenho certeza de que não terei, a pretensão de confrontar nenhum tipo de estudioso de áreas afins que se dedicam à análise de sonhos. Isto envolveria muita perda de tempo em batalhas verbais, de significados e de significantes, na busca de entendimento de uma linguagem conceitual em comum, na superação de bandeiras e vaidades, crenças, certezas e defesas. Em síntese, uma batalha sem fim.
O nosso tempo de vida é muito curto para dispreender energia valiosa em tarefas que cabem mais a ideólogos se dedicarem. Minha intenção era mais primária: partilhar 35 anos de estudo e pesquisa na travessia desta mata desconhecida do universo psíquico. Partilhar o pouco que descobri e convidar mentes aventureiras ao desafio de realizar essa travessia de algum lugar, presente, para o insólito que anseia se ordenar.
Pouco é o tempo, nessa modernidade nervosa, que possuímos para passar horas a fio em dedicação e estudo à volumosa e rica matéria acumulada ao longo da formação da civilização humana. E uma dedicação nesta dimensão pode retirar o sujeito da realidade da sobrevivência, e se ele é possuidor de posses que o livrem da necessidade do ganho, ainda pode tirá-lo da realidade dos significados que constituem a vida moderna, pelo mergulho no passado.
Não me identifico com os que fazem leitura e análise a partir apenas do princípio mitológico. A mitologia para mim não é um conteúdo morto que em significado reside no passado. A mitologia para mim se faz vida no dia a dia e se interagirmos plenamente com essa realidade veremos que ela se define no que ainda é indefinível e evoca aquilo que já foi descrito.
Neste aspecto, o estudo da mitologia em todas as culturas, e não apenas na grega ou romana é fundamental, mas pode ser realizado numa prática associada à visão da realidade mítica do presente. Conjuntamente aos poucos. Em comum acordo, um conhecimento completa o outro. Quando vejo eruditos que se envaidecem narrando contos míticos, e associados aos sonhos, pressinto a armadilha de referências importantes representando apenas uma linguagem dissociada da realidade da interpretação ou do seu sentido e significando. Apenas alimento narcísico para o interprete. Sem sentido.
Os SONHOS SÃO A PROVA VIVA DA DINÂMICA DA VIDA, O PASSADO DEVE SER REFERÊNCIA, MAS NÃO PODE SER MAIS DO QUE O EVENTO OU O FENÔMENO REAL, AQUELE QUE TEM SENTIDO POR EXISTIR.
Por isso é que na falta de indicativos do passado, se tivermos a sensibilidade afiada do observador acurado, não perdemos o conteúdo da luz que ilumina a matéria viva dessa mata escura.
E esse se mostrou meu objetivo, a descoberta do sonho como uma realidade presente, pensável, compreensível. Porque o inconsciente busca e anseia compreensão independente da forma ou do revestimento. Ele anseia luz, referência, rumo.
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