quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

AUTONOMIA E REALIDADE





Não lembro muito bem o que aconteceu, mas num sonho seguinte que pareceu-me uma sequencia, eu estava procurando informações sobre uma segunda oportunidade de emprego, a qual fora oferecida por um deputado. Digo segunda pois parece que eu já estava praticamente empregada numa vaga que surgira inicialmente (acho que de uma empresa) e, dentro do sonho, isso parecia ter relação com o meu atual emprego. A principio achava a ideia de trabalhar para um deputado ousada demais para mim, mas procurei até encontrar uma jovem que conhecia a família do mesmo, que já fora empregada dele e que se ofereceu de me dar algumas dicas. Inicialmente achei-a “patricinha”, toda produzida e chique sobre um salto alto. Embora tenha surgido de minha parte uma comparação, não quis diminuir-me por ter um jeito simplório e isso não inibiu-me de pensar que poderia sim trabalhar para o deputado. Além disso percebi que, embora fosse “patricinha”, a jovem era legal. Quis saber que tipo de emprego era e ela explicou-me que seria contratada uma pessoa para cuidar da sogra dele, disse-me que a “velha” era cheia de manias, mas que se ela gostasse de mim poderíamos ser boas amigas e daí eu só teria o trabalho normal de lidar com uma pessoa nas devidas debilitações naturais da idade. Senti-me certa de que a “velha” ia gostar de mim. Como se estivesse me dando um treinamento a jovem ensinou-me onde e como levar a velha para passear, o modo para ajudar-lhe a sentar e levantar-se. Depois de uma hora ela olhou para o relógio dizendo que tinha um compromisso. Daí marcamos de nos ver no dia seguinte para outra aula. Além disso ela garantiu que me recomendaria ao “cargo”. Despedindo-me dela disse que ia imediatamente procurar o deputado para dizer que aceitava a oferta de emprego. Não recordo do resto.

Considerações:

A situação e o cenário podem envolver angústia latente e conflito. Angústia porque envolve o trabalho que é principio de realidade e exigência do mundo adulto. Assumir-se como adulta capaz de conquistar o seu sustento, superando a dependência, abrindo caminhos para superar a submissão abandonando expectativa de ter provedor na vida. A inserção na realidade exige de todos um esforço associado a rituais de conquista do mercado e rompimento com a adolescência, a fantasia e a ilusão, associados ao descompromisso e ao desconhecimento do “mundo”.

Ainda que os tempos modernos tenha aberto possibilidades para que o homem aumentasse suas opções de sustento, a batalha pela sobrevivência exige e torna o sustento uma grande conquista. A luta do adulto por seu espaço no mercado competitivo, o se assumir como profissional, definindo área de atuação, aprendizado de atividades, a conquista de mercado e obtenção de remuneração como mão de obra e operário, é imperativo. Uso o termo porque como trabalhadores autônomos ou não, funcionários, ou prestadores de serviço somos todos operários. Operários de toda uma vida em busca do sustento e da sobrevivência digna.

Pressinto polarização que eleva a tensão, o que é sinal de duas forças: uma tendência expansiva que a leva em busca de sua autonomia e uma retensiva ou retroativa que tende a te desmobilizar emocionalmente, promovendo baixa estima e bloqueios em sua busca de libertação e independência.

Como disse a baixa estima, ou algum núcleo de inferioridade aparece em forma de pré-conceito, defesa, resistência colocando em risco a sua ação pró ativa, em sua busca de colocação no mercado de trabalho.

Mas há sinais positivos:

Indicação de humildade, a postura que lhe permite receber do outro o treinamento, preparo e qualificação;

O trabalho de cuidar do mais velho, no sentido de mais custoso, ou difícil, a disposição ou disponibilidade de se envolver nos cuidados dos mais necessitados;

Há mais aceitação de sua condição natural ou de sua realidade e a dinâmica é positiva, otimista e de sucesso na busca ou no movimento que lhe é proposto;

O foco do movimento é mantido (a ocupação) e não desviado pela baixa estima (ousadia de procurar uma boa ocupação, ou de trabalhar para um político).

Neste último tópico veja que interessante: Se estou me lembrando com precisão, no passado as fantasias compensadoras conduziam-na para realidades de poder e riqueza. Você conseguia se fantasiar de rica e poderosa, mesmo que compensatoriamente. Mas apresenta dificuldade de ser escolhida para trabalhar para alguém que tem status e poder político, como se fosse ocupação além do seu merecimento ou capacitação.

Cuidado com o preconceito e com as avaliações e classificações precipitadas do “outro”, este é um comportamento defensivo que impede relações e interações mais naturais. As dificuldades ou armadilhas em que o “outro” se encalacra não devem ser justificativas que a impeça de tomar atitudes mais maduras, respeitosas e autênticas na interação social.

Como lhe disse no sonho anterior, vencendo a fantasia, a realidade está na outra margem, e essa outra margem lhe abre as portas para que encontre o seu lugar no mercado, o seu espaço. Para que conquiste o sustento e a realização de seus propósitos.

O caminho é de autonomia e de independência responsável. Neste cenário os voos são rumo à liberdade e às conquistas abandonando o passado e o padrão de submissão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário